terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Ilusórias esperanças do Ano Novo

Caros leitores, todos os anos, por esta altura, todos nos debruçamos em balanços, contas, relatórios, inventários, demonstrações, tudo em nome de um arranque novo motivado pelo apregoado ano novo-vida nova. Depois dos perdões pedidos e aceites na consoada; depois de pesarmos as nossas consciências nas doze passas e badaladas da entrada do ano, desejamos ano novo-vida nova. E confiando na volta do calendário, acalentamos a ilusória esperança de que tudo vai ser diferente. De facto, no calendário estamos no ano novo: é 2007. Disso não tenho dúvidas. Agora, quanto à vida nova, aí tenho dúvidas. Se olharmos para os rabos que os gatos deixaram de fora em 2006, 2007 promete: ano novo mesma vida. Senão, vamos a contas.
Entramos em 2007 à cores e ao som da execução do ditador iraquiano. Já nada espanta. Em São Tomé e Príncipe, the same old story: a falta de energia eléctrica, continua a ser o pão-nosso de cada dia, numa cíclica e quotidiana alternância entre trevas e modernidade. Pouco será novo: para muitos nada mudará.
No resto do mundo, também poucas novidades e muito já estava antecipado:
No Médio Oriente, continuaremos a pautar as análises em torno guerra no Iraque, no Afeganistão, ao terrorismo global tentacular; ao estatuto pré-nuclear do Irão e no espectro da guerra civil nas ruas da palestina. Na América Latina continuaremos ouvir falar de Hugo Chávez e da sua campanha socialista. Mais a norte, o que já sabíamos: os democratas tomarão posse de novas exigências e Bush mandará marchar mais botas para o iraque.
Em África, continuaremos a assistir de longe ao espalhar da morte pelo Sudão e pela Somália; e sairão mais relatórios, estatísticas, estudos e resoluções sobre o desenvolvimento e pobreza no continente.
Na Ásia, a China e a Índia continuarão a ditar o ritmo das relações comerciais; e o querido líder norte-coreano continuará de arma nuclear em punho. Aqui na Europa, os factores de perturbação e incerteza também não anunciam resposta à crise constitucional, nem mesmo após o combate fashion entre a direita de Sarkozy e a esquerda de Segoléne, mesmo se o racista Le Pen aparecer para jantar, ou se esperamos pelo cair do pano de Tony Blair.
Por fim, mas não menos importante, em Portugal todos os habituais aumentos já foram anunciados, alguns serão repetidos mas o Presidente da República até conseguiu fintar o apertar de cinto no seu discurso de ano novo.
Perante este breve quadro, caro leitor, não me parece que 2007 mereça o título ano novo vida nova, porque não entrou com grandes esperanças nem com respostas de algibeira. Parece-me que tal como as alterações climáticas 2007 nos revelará algumas verdades inconvenientes que nos deixarão pouco ar para respirar. Assim, resta-me desejar-vos boa sorte!, em vez do habitual e ilusório bom ano novo.

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