quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Fim da inocência

Arroz Doce, Arbusto Andante e o Médio Oriente

3 anos e tal depois da invasão e a quase 2 anos do fim da sua malograda tentativa de democratizar o Iraque, 43, jwb, em bom português: o arbusto andante (de walker bush), enviou a sua secretaria de estado para o médio oriente. com esta jogada, wb, pretende colocar algum Arroz Doce (condoleeza = com dulceza = com doçura; em curto: doce! Rice = arroz) nos amargos de boca que criou na região. na entrevista que deu ao diário alemão SPIEGEL Online, Arroz Doce confessa que a América tem uma responsabilidade perante o mundo, que não se trata de uma questão de imagem.
Claro que não: trata-se de uma tentativa de deixar algum legado positivo na história. Depois de ter espalhado fogo à erva daninha do Iraque, arbusto andante quer agora adoçar as pedras e bombas da SantaTerra , esperando com isso o perdão da história e de deus. Valha-lhe Arroz Doce.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Barack Obama

Não resisti e por isso aqui vão três notas sobre este assunto. A propósito de um certo grupo de conversas na internet
1. Comentando o Barack em politiquêsmente correcto:
Sabiam que um cara que estudou bastante em Harvard, onde alías acabou por se licenciar magna cum lade e, depois, exerceu com brilho uma carreira de advogado e professor universitário, decidiu um dia apostar na política
porque teve The Audacity of Hope e porque teve a coragem de reviver o Dreams from My Father (Leituras essas que se recomendam. Este aqui apenas leu partes dos Dreams, mas leu reviews da Audacity)
tendo ofuscado Bill Clinton na convenção democrata em 2004, decidiu candidatar-se às presidenciais americanas de 2008? O cara é um jovem (v. em baixo) - o que evoca em muitos o mito perdido de Kennedy, assume ideias (algumas delas alguns comentadores/analistas até consideram conservadoras, leia-se republicanas) e encanta multidões.
Antecipa-se um luta nas primárias democratas entre este jovem senador do Ilinnóis, nascido em Honolulu (Hawaii, EUA) em 1961 (portanto, 47 anos) contra senator Clinton (repararam que não há referências ao sexo de Clinton? Não era piada, era politicamente correcto: senator não tem sexo; é como os anjos).
2. Pelo Fim do politiquêsmente correcto:

Um dia destes, no Domingo, para ser exacto, um comentador português, por acaso, de direita (a seguir no programa Descubra as Diferenças, Rádio Europa: Rodrigo Moita de Deus ou o Pedro Marques Lopes) elogiava esta viragem histórica americana: enquanto Reverendo Jesse Jackson se candidatou às presidenciais (1984; democrata) enquanto negro e como tal queria beneficiar dessa condição, o Barack é um candidato que, só por acaso é negro, dixit.

Penso que o acaso não é mero: é que há uma diferença entre ser um candidato negro e um candidato que, pelos vistos, é negro. O Barack não é um candidato dos negros ou afro-american: é um (bom) candidato. Acredido que a competência, chamem-lhe charme, talento ou natural born seja mais visível do que a cor em Barack; coisa que nem todos os negros assumem como um facto natural.
Mas diga-se en passant: todos nós temos qualquer coisa que nos identifica e nos distingue. O que nos identifica é vivido por todos, quer se queira quer não. Porque o que mais depressa identifica Barack é a sua cor, muitos nem se dão ao trabalho de ler/ouvir o que o homem tem para dizer. Para o bem e para o mal.
Quanto à questão das cores da América, penso que a paleta é demasiada complexa para se diluir no preto e no branco. O Reverendo bem o soube explorar.
3. Para curiosos:
A Representante Shirley Anita St. Hill Chisholm foi a primeira Afro-americana a concorrer para umas presidenciais americanas (1972, democrata).
Ainda no Wikipédia vale a pena dar uma vista em Afro-American e na sub-secção Who is African American?

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

De Nairóbi a Davos: a Globalização a duas vozes num mundo achatado

as notícias que dão conta de que O Mundo é Plano são francamente exageradas, se não mesmo falsas. reparem: numa mesma semana, com início no passado sábado e fim no próximo domingo, o mundo será interpretado em duas importantes arenas internacionais: o fórum social mundial e o fórum económico mundial. o primeiro reúne-se desde sábado em nairobi, no quénia; e o segundo inicia-se na quarta-feira em davos, na suiça. naquele discute-se um outro mundo possível, pela libertação do mundo do domínio das multinacionais e do capital e pela construção de uma economia alicerçada nas pessoas. neste equacionam-se as novas forças da mudança, os perigos geopolíticos, os avanços tecnológicos e os constrangimentos à globalização.
entre o social em nairóbi que caracteriza a utopia crítica de uma visão alternativa, numa busca de uma partilha equitativa da riqueza e a economia dos lucros e da riqueza que tenta alargar as conquistas da produção liberal em davos, áfrica surge em cima da mesa de ambos os conclaves: na mesa de davos, surge como potencial beneficiário de uma globalização que ainda não passou pelo continente, ou melhor, que já lá há muito atracou para encher navios de recursos naturais e aviões de talentos humanos prontos a exportar. na mesa de nairóbi, surge como o mais ilustre perdedor na luta de titãs das grandes potencias e multinacionais em busca de um paraíso de baixos custos de produção, segurança de abastecimentos e acesso a mercados favoráveis.
a verdade é que, seja em nairóbi seja em davos, áfrica parece uma impotente estátua no centro de uma praça, por onde todos passam e até apontam maravilhados congeminando projectos, estratégias e modelos de desenvolvimento, sem no entanto a estátua virar gente de carne e osso. áfrica hoje, como ontem, é apenas uma disputa e fonte de riquezas que vai trocando a alma pela promessa de um desenvolvimento adiado, hipotecando ou devorando a própria esperança num processo de neo-mercantilismo cínico, seja ele porque não contempla a riqueza pelos meios duma globalização canibalizante, seja porque insiste na apropriação de utopias cegas à criação de riquezas. riquezas essas que já não brotam do chão, das minas ou de outros buracos mais ou menos fundos, mas que provêem de tecnologias, informação e talentos humanos. riqueza essa que davos acumula a norte e que nairóbi pretende distribuir a sul.
é preciso compreendermos que, enquanto a globalização deixar vazias as barrigas de áfrica, o mundo continuará redondo e achatado. talvez mesmo um pouco chateado: seja em davos, porque o continente continuará a ser o sapo entalado na engrenagem dos lucros; seja em nairóbi, porque as utópias por si só não enchem a barriga de multidões.

Feito a 4 mãos, com Rute Martins Santos (a minha delightful amora) nos teclados.

Technorati Profile

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

As Ilhas de um tal Albert

(esboço de um anúncio publicitário. o título do spot seria assim: príncipe à velocidade da luz)
no domingo vão ouvir-me falar sobre isto. marketing, albert einstein, turismo, são tomé e príncipe. porque não sabia os pormenores do enredo resolvi googlar. teclei: theory of relativity sao tome and principe. o resultado da pesquisa chegou
vroommm! bip-bip
em nanogoogle secs (o diabo ainda nem tinha acabado de esfregar o olho): e logo em primeiro lugar apareceu um cientista de nome arthur stanley eddington na wikipedia (aqui entre nós, e para não cansar me cansar a escrever o nome do senhor, doravante ASE) . cliquei, li e, com a devida citação,
(ó para mim a fugir com o rabo à seringa a uma acção de plágio ou de uso não autorizado de propriedade alheia)
retirei a foto ali ao lado e o trecho em itálico:
Após a guerra, Eddington partiu para São Tomé e Príncipe, onde um eclípse solar total seria visível em 29 de maio de 1919.
e que
Durante o eclipse, Eddington tirou diversas fotografias das regiões situadas em torno do Sol.
numa outra entrada, a wiki esclarece que a experiência de ASE foi realizada na ilha do príncipe (descoberta em 17 de Janeiro de 1471, por ... ). sabe a quem pertencem as reticências? muito bem!
João de Santarém e Pedro Escobar nunca imaginasticaram que 448 anos depois, a ilha que descobriram viria a ser palco de demonstração da velocidade da luz. diz quem lá esteve, que na roça sundi existe uma placa que assinala o lugar da experiência. faça como são tomé, o santo, e pague para ver v. mesmo.

Um certo turista acidental

no debate africano de hoje, citei erradamente (diga-se, breve) uma estatística : áfrica tem um share
(share é a palavra inglesa que traduzindo em imaginastiquês significa a fatia do bolo)
mundial de cerca de 1,2% do fluxo turístico, disse eu. de imediato o eduardo fernandes com a sua aguçada perícia de economista habituado aos números corrigiu-me a mão: áfrica tem um share mundial de cerca de 4,2% do fluxo turístico.
o comentador não é imune ao erro, mas deve evita-lo, dir-me-á de rompante o caro ouvinte, que investe quase duas horas do seu tempo aos domingos para ouvir as nossas lenga-lengas na esperança de ouvir comentários e análises esclarecidas, sem margens de erro, em vez de ir passear o cão, domingar a madrugada na igreja ou simplesmente roncar mais umas horas de sonho. e tem razão! caro leitor/ouvinte, do baixinho do meu telhado de vidro, lhe peço as humildes desculpas,
minha culpa, minha máxima culpa, como diriam os antigos românicos, em latim
e antes que me apelide de um tal comentador da treta, aqui fica um site com estatísticas e que estou certo não fará de si um certo turista acidental do nosso Debate Africano. veja pois o world tourism organization em www.world-tourism.org.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

O rapaz que queria ser onda, ou a estória do Mar Cáspio

De noite o rapaz que queria ser onda ficava olhando pela janela, Nem sei quando a Lua me levará, e se imaginando onda, vivia as maiores aventuras da sua vida, sentindo os piratas, os pilotos de navio, os investigadores do mar, e até, pasme-se, os professores de natação se aventurando em seus braços aquáticos. O rapaz permanecia noite após noite sempre e infatigado, olhando a Lua. Não querias ser onda, perguntava aos colegas de escola, que, aos poucos se convenceram que o rapaz que queria ser onda só podia estar ficando louco, A gente não pode ser onda, Onda não se segura com corda, lhe respondiam, com o jogoso sorrir de adolescentes. O rapaz, convencido de que era possível beijar o mar, era possível viajar só olhando para a Lua, continuava se imaginando onda, E então nunca te imaginaste sequer onda, com a Lua te enfeitando a noite e o vento te levando até aos continentes longínquos, perguntava insistente. Os colegas, principalmente o mais velho da turma, lhe tentavam chamar a razão, Não digas essas coisas, ainda te tomam por doido, e partiam gozando. Certo dia, o rapaz que queria ser onda pediu ao seu pai, que nunca tinha visto o mar, porque, ainda não disse, mas o rapaz vivia numa região que não tinha mar, não tinha rio, não tinha água senão as de um chafarica que o Governo mandou colocar, Juntamente com o maior depósito de água do país, para mostrar que nós também pensamos em vocês, como confessaram com as pompas e nas circunstâncias da inauguração, e não escondendo a tradicional troca política do dá-cá-toma-lá o voto Nas próximas eleições não se esqueçam de quem vos deu água. Dizia eu, o rapaz pediu ao pai me mostre o mar, me dê a oportunidade de espreitar uma vez o mar e provar o sal não com a imaginação, mas com a Boca que a terra há-de me comer. O pai, depois de explicações de impossibilidades financeiras e de transporte, porque, como lhe esclarecia, Sabes bem que é difícil chegar até ao mar, daqui da nossa terra, são quilómetros e quilómetros de estrada, dias a fio, e noites de frio até chegarmos ao mar. Nisso, o rapaz não desistia, e, passados meses, como quem diria nos filmes, alguns meses depois, o rapaz que queria ser onda, voltou à carga, numa de quem não sente não é filho de boa gente, Sinto a falta do mar, meu pai, gostaria de voltar às minhas origens, quero ser onda. E o pai do rapaz que queria ser onda se suspendeu em surpresa, Que ideia meu filho, que estória essa de ser onda, perguntou. Sabe, começou o rapaz que queria ser onda, desde que conheci a Lua, que ela me fala no mar, me chama todas as noites para os lugares mais longe daqui, Cáspio, venha comigo, diz-me, quero ir com o mar até ela. E de repente dele começou a escorrer uma gota dos olhitos, a cada uma que caía, o pai do rapaz que queria ser onda dizia, Mas meu filho, ninguém pode ser onda, desista da ideia, nós nunca veremos o mar. O rapaz continuava chorando. Debaixo dele começava se ajuntando uma pequena poça igual parecia água, a maior jamais nunca vista nesta aldeia, como veio depois a confessar quem viu, pelo que o pai do rapaz se atarantou em chamados e achados, Meu filho se diabificou, se desencantou de deus. E as pessoas iam se agentando naquilo que parecia um fenómeno desnatural, Que diabos se passa nesse miúdo. O rapaz que queria ser onda sabia, tinha chegado a sua hora, ele se liquidificava começando dos pés, se ia definhando à medida que crescia aquele mistério d' água no chão, essa água que era seu destino desejado, o maior dos seus sonhos, a única riqueza que se pode ter sem perder vergonha. Num dado momento, a Lua começou a surgir, e eis que quando, Finalmente sou uma onda, gritou o rapaz que já não queria ser onda, porque se tornara uma onda e abriu leito entre as casas, a floresta e os quilómetros e quilómetros de estrada, desenrolando os fios dos dias, e os calafrios da noites até chegar ao mar. Aquele dia, ficou na memória e qual rio corria bocas, a sua fama lhe baptizou como o Dia de Cáspio. E o mar que tornou rica a aldeia tomou o nome de um rapaz, que um dia fugiu da aldeia, para dela nunca mais sair.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

A CRP Anotada

Ecce opus: a obra mais esperada do pós-9/11 já está nas bancas. Gomes Canotilho e Vital Moreira did it again: recalibraram a sua CRP Anotada e botaram-na nas bancas. Agora, está mais gordinha (introdução e anotações até artigo 107.º da tia CRP, em 1107 págs.) e com o mesmo rigor de sempre. A tia CRP (30 anitos de botóx, lifts e um bronzeado que lhe deu cara "morena") agora vem em volumes: o Vol. I está disponível pela simbólica prestação de € 66,15.
Lembrem-se que a anterior edição de 1993 esgotou como castanhas assadas em noite de Inverno.
Está dito.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Para onde caminham estas mulheres?

não sei. nem sei onde as encontrei. gosto de imaginasticar que caminham para o futuro
(disseste, caminham)
em busca do tempo
(sim, que caminham)
perdido,
- coitadas, ai delas
como se a vida lhes desse a oportunidade, ai coitadinhas, de verem a cor por cima do cinzento, ai coit
os olhos virados para o norte,
(está aqui no jornal; olha, diz aqui)
não quero saber, imagino-as
como se ao som de um gemido de terra seca para onde caminham que lhes beijam os pés, o tempo escorrece em tintas de aguarelas, e pintasse outro quadro
mais colorido.
(não sei.
olha, não me podes deixar aqui a falar soz)
como uma frase deixada por acab

A gramática e os revolucionários da riqueza do séc. XXI

Na semana passada Steve Jobs, o patrão da Apple a tal empresa que criou e vende um ipod por segundo Apresentou o iphone: um mobile-netnavegator-mp3player que promete revolucionar os telemóveis e os conteúdos móveis. O iphone vem, pois a galope, juntar-se ao ipod, ao podcast, à web 2.0, à wikipedia, ao blog, ao youtube, ao facebook, ao myspace, ao pda, ao hi5, ao dvd, ao umpc, ao messanger, ao google, ao second life, ao vista, ao outsourcing-insourcing, a Bangalore, à nanotec, à robótica e outros tantos vocábulos e realidades com as quais qualquer jovem dos 18 aos 25 anos dos países desenvolvidos se habitou a lidar. Realidades que fazem parte das nossas vidas e que estão a escrever a história e a evolução tecnológica e do próprio mundo. São vocábulos da nova gramática deste período de tempo que Alvin e Heidi Tofler classificam como d'A Revolução da Riqueza.

E os revolucionários de hoje são conhecidos nos Estados Unidos da América como a Generation Ne(x)t, ou simplesmente a geração da internet, da tecnologia. Eles não querem estatizar o petróleo, os serviços essenciais, nem prometem um mundo melhor. Usam a internet para conhecer pessoas, criar comunidades de interesses e de partilha. São prosumers, isto é consumidores que ajudam as empresas a criarem os produtos que preferem.
É uma geração de pessoas que querem ser ricas e famosas, porque a riqueza e a fama são duas faces da mesma moeda; são faces da realização pessoal, de um modo de estar no mundo e na vida do Século XXI. Esses jovens cresceram e dominam a tecnologia como nenhuma outra geração anterior. Mas sabem que a fortuna e a fama apenas podem ser conquistadas através do domínio da tecnologia, e tal requer um sistema educativo de excelência.
Os Tofler acreditam que a riqueza e o desenvolvimento deste tempo serão criadas através do conhecimento e da inovação. O desenvolvimento de um país já não depende apenas da posse de riquezas naturais: depende sobretudo da utilização da razão humana para gerar fluxos de ideias, capacidades e inovação. Se acreditarmos na história que os Tofler contam, poderemos sem sombras de dúvidas afirmar que nunca antes tantos tiveram um recurso tão barato e bem distribuído ao dispor do bem-estar: a razão humana.
Hoje, a gramática do desenvolvimento já não se aprende nas fábricas nem nas minas, mas sim nos banco das escolas e nos laboratórias. Por isso, na mesma semana que Steve Jobs anunciou o iphone, aplaudi o anúncio do Centro de Informação, Tecnologia e Conhecimento a instalar em são tomé. Não espero que de lá venha a sair um iTv, mas tenho esperanças que São Tomé e Príncipe não deixe escapar o ciclo da razão para apostar no presente.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

As melhores participacões de sinistros

[Esta enviaram-me por e-mail. ]
Descrição de ocorrências nas participações de sinistro do ramo automóvel em 1998, consideradas as mais caricatas

1. O falecido apareceu a correr e desapareceu debaixo do meu carro.
2. Para evitar bater de frente no contentor do lixo, atropelei um peão.
3. O acidente aconteceu quando a porta direita de um carro apareceu de esquina sem fazer sinal.
4. A culpa do acidente não foi de ninguém, mas não teria acontecido se o outro condutor viesse com atenção.
5. Aprendi a conduzir sem direcção assistida. Quando girei o volante no meu carro novo, dei comigo na direcção oposta e fora de mão!
6. O peão bateu-me e foi para baixo do carro.
7. O peão não sabia para onde ia, então eu atropelei-o!
8. Vi um velho enrolado, de cara triste, quando ele caiu do tejadilho do meu carro.
9. Eu tinha a certeza que o velho não conseguia chegar ao outro lado da estrada, por isso atropelei-o.
10. Fui cuspido para fora do carro, quando ele saiu da estrada. Mais tarde fui encontrado numa vala por umas vacas perdidas.
11. Pensei que o meu vidro estava aberto, mas descobri que estava fechado quando pus a cabeça de fora.
12. Bati contra um carro parado que vinha em direcção contrária.
13. Saí do estacionamento, olhei para a cara da minha sogra e caí pela ribanceira abaixo.
14. O tipo andava aos ziguezagues de um lado para o outro da estrada. Tive que me desviar uma porção de vezes antes de o atropelar.
15. Já conduzia há 40 anos, quando adormeci ao volante e sofri o acidente.
16. Um carro invisível veio de não sei onde, bateu no meu carro e desapareceu.
17. O meu carro estava estacionado correctamente, quando foi bater de traseira no outro carro.
18. De regresso a casa, entrei com o meu carro na casa errada e bati numa árvore que não é minha.
19. A camioneta bateu de traseira no meu pára-brisas, em cheio na cabeça da minha mulher. 20. Disse à polícia que não me tinha magoado, mas quando tirei o chapéu percebi que tinha fracturado o crânio.

Ilusórias esperanças do Ano Novo

Caros leitores, todos os anos, por esta altura, todos nos debruçamos em balanços, contas, relatórios, inventários, demonstrações, tudo em nome de um arranque novo motivado pelo apregoado ano novo-vida nova. Depois dos perdões pedidos e aceites na consoada; depois de pesarmos as nossas consciências nas doze passas e badaladas da entrada do ano, desejamos ano novo-vida nova. E confiando na volta do calendário, acalentamos a ilusória esperança de que tudo vai ser diferente. De facto, no calendário estamos no ano novo: é 2007. Disso não tenho dúvidas. Agora, quanto à vida nova, aí tenho dúvidas. Se olharmos para os rabos que os gatos deixaram de fora em 2006, 2007 promete: ano novo mesma vida. Senão, vamos a contas.
Entramos em 2007 à cores e ao som da execução do ditador iraquiano. Já nada espanta. Em São Tomé e Príncipe, the same old story: a falta de energia eléctrica, continua a ser o pão-nosso de cada dia, numa cíclica e quotidiana alternância entre trevas e modernidade. Pouco será novo: para muitos nada mudará.
No resto do mundo, também poucas novidades e muito já estava antecipado:
No Médio Oriente, continuaremos a pautar as análises em torno guerra no Iraque, no Afeganistão, ao terrorismo global tentacular; ao estatuto pré-nuclear do Irão e no espectro da guerra civil nas ruas da palestina. Na América Latina continuaremos ouvir falar de Hugo Chávez e da sua campanha socialista. Mais a norte, o que já sabíamos: os democratas tomarão posse de novas exigências e Bush mandará marchar mais botas para o iraque.
Em África, continuaremos a assistir de longe ao espalhar da morte pelo Sudão e pela Somália; e sairão mais relatórios, estatísticas, estudos e resoluções sobre o desenvolvimento e pobreza no continente.
Na Ásia, a China e a Índia continuarão a ditar o ritmo das relações comerciais; e o querido líder norte-coreano continuará de arma nuclear em punho. Aqui na Europa, os factores de perturbação e incerteza também não anunciam resposta à crise constitucional, nem mesmo após o combate fashion entre a direita de Sarkozy e a esquerda de Segoléne, mesmo se o racista Le Pen aparecer para jantar, ou se esperamos pelo cair do pano de Tony Blair.
Por fim, mas não menos importante, em Portugal todos os habituais aumentos já foram anunciados, alguns serão repetidos mas o Presidente da República até conseguiu fintar o apertar de cinto no seu discurso de ano novo.
Perante este breve quadro, caro leitor, não me parece que 2007 mereça o título ano novo vida nova, porque não entrou com grandes esperanças nem com respostas de algibeira. Parece-me que tal como as alterações climáticas 2007 nos revelará algumas verdades inconvenientes que nos deixarão pouco ar para respirar. Assim, resta-me desejar-vos boa sorte!, em vez do habitual e ilusório bom ano novo.

sábado, 6 de janeiro de 2007

O uso da força e da forca

Uma semana passou desde que Saddam Hussein passou nos cadafalsos da nossa indeferença, dos nossos ecráns. Saddam morreu mas nós não saímos ilesos da sua execução. Fomos executados por um vídeo gravado por telemóvel (você viu? Eu não). A princípio não percebi totalmente o fenómeno e embarquei-me num aparente silêncio da mente e atravessei uma nuvem de ignorância. Decidi ler as análises e comentários sobre o assunto (você leu o excelente artigo de Pacheco Pereira publicado no Público de 4 de Janeiro de 2007? Eu li)

O que sairá dessa cabecinha

Não posso deixar de lado um particular episódio pessoal e transmissível. Há uns dias pediram-me para comentar aquela morte – O que é que achas disso, perguntou-me ansiosa. (Estou curiosa para ver o que sairá dessa cabecinha, confessou-se.) E na altura, enviei-lhe um e-mail Achas justo que em plena praça natalícia nos entreguem a cabeça do ditador em pratos de telemóveis, inquiri-a. A resposta foi um curto e seco Acho repugnante. E eu num acesso de humor, imaginastiquei e reparei na ironia, em português força e forca estão separadas por um cordel, uma cedilha: ç (c). Acrescentei num postito: é irónico Saddam não ter reparado que cedo ou tarde alguém que puxaria a corda da força (ou da forca).

Depois de serenamente voltar da minha nuvenzinha de ignorância, decidi trocar as pernas debaixo da umbreira da porta da casa dos meus sogros e escrever a resposta ao – O que é que achas disso, saciando ao mesmo tempo a sede de saber. Ao o que sairá dessa cabecinha. (Uma coruja rompe-me o pensamento, apagando uns vagos sinais de nada em torno da palmeira; no tanque repousam duas peças de roupa acabadas de torcer pela minha sogra que quando acabares, estende-as por favor vou ter de sair, deixa cair o pano, fico sozinho com Saddam, o You Tube, a Internet, as televisões, os cães ladrando vivas como no vídeo que não vi porque acho repugnante. Como assim?, retórica narrativa. Que mundo fascinante este (tempos interessantes, no dizer de Eric Hobsbawn), do fascínio da morte do outro: daquele que Se não me é nada, nem me pertence, nem é do meu país, não é daquele país cujo nome não direi, não interessa. A pressão do mercado dos media; a liberdade youtubiana; a coligação de espectáculo e alienação.

Saddam e a ética ocidental

Uma semana depois, ainda vejo Saddam morrer; e, teimosamente, ainda mata, imortalizado nas imagens que uma criança tentou emular, sucumbindo aos pés da televisão, da Internet e da sociedade que se perde entre o bem e o mal. Isso do bem e do mal é muito complicado, o melhor é nem pensar nisso; não tenho tempo, vivo à mais de 2 mb por segundo, não me quedo nessas questões. E globalizamos a essência social num tempo efémero e num espaço virtual. E nós a esquecermo-nos, rectius, fingimos esquecer porque é tão mais simples, num processo de encobrimento, You, você, a figura do ano, consagrada pela revista Time, a tentar moldar o tempo e o mundo, difundindo num blog as imagens de Saddam; Esquecendo-se de Cesar Beccaria: A cidadania impõe um limite a actuação do Estado perante a pena de morte. E de Emmanuel Kant: Trata um homem como um fim em si mesmo. Num pensamento: O contrato social não aliena o homem no Estado, apenas o partilha. Retirado das suas reflexões sobre o direito, a cidadania, o Estado, o poder, a ética, a sociedade. Não queres saber, porque não te toca na pele.

Pacheco diz que o Ocidente conquistou o poder de limitar o poder do Estado de determinar a morte dos seus cidadãos (anote: os EUA, o tal país cujo nome não mencionei, são um certo outro Ocidente): ou seja, no Ocidente o uso da forca está limitado (em certos lugares nesse país cujo nome não vou mencionar) ou mesmo abolido. Acrescento com modéstia outra conquista: o uso da força também está limitado. Em suma, o Ocidente domou a força e a forca: submeteu-os a uns tantos espartilhos a que chamarei por ocidental comodidade democracia. Com ou sem Deus.

Um certo país chamado Iraque

No Iraque não há democracia: não havia na força de Saddam nem há agora na forca de Saddam. E os ditos juízes e carrascos que mandaram puxar a corda que retirou a força ao ditador, colocando-o cadafalsamente na forca, não conhecem Beccaria nem Kant. Aliás, Iraque não é um Estado porque a dignidade do ser humano encontra o seu equilíbrio no binómio força/forca e não no justo respeito da sua condição de cidadão. Dizem as narrativas que mil palavras não seriam suficientes para os 2’ 38’’ do filme. Deixo isso para os jornalistas, que se bastam no enunciado. Chamamos a sua atenção para o facto destas imagens poderem chocar a sua sensibilidade. Mais um choque português o choque de sensibilidade; e não o choque ético, que exige uma velocidade mais lenta, quase de tartaruga. Incompatível com o mercado, com o You Tube, com a netificação social. E que nessas imagens, Que podem chocar a sua sensibilidade, movidas a cores e bem sonoras, movidas a toque da tecnologia de último grito. Saddam revela-se tranquilo, sereno e até mesmo digno. Pudera! Uma certa dignidade de um homem que tal como os seus carrascos encapuçados sabia, porque executou, mandou executar e assistiu a outras tantas execuções, que a caminhada tinha chegado ao fim. Não vale a pena refilar, terá pensado o ditador. Ou terá lembrado um eco agora fantasmagórico de palavras que ele mesmo deve ter proferido mil vezes antes e que agora lhe esmagaram o pensamento. Um choque histórico, determinista, fatídico. Não vale a pena refilar! Com essas palavras, Não vale a pena, o ditador fechou-se numa aparente dignidade, num reconhecimento de derrota, conformado que refilar, tal como terá dito às suas vítimas, não tinha o dom de lhe colocar a tal cedilha na forca. E assim, sabia que chegara ao fim: caíra na teia que ele próprio tecera. Só lhe restava aguardar ao esticar da corda. Na morte Saddam confrontou-se consigo mesmo e estarreceu-se com a razão avant la lettre que teve – Não ... refilar! E morreu ciclicamente: já estava morto.

Como ao Iraque, um país cuja corda vai-se esticando entre a violência sectária e a guerra civil.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

jazz, improviso e um certo programa de debates

A minha proposta era precisamente para que não entrássemos numa de «as conversas são como as cerejas» e «cada tiro cada melro» e irem surgindo os temas “out of the blue” porque o debate é livre e o pessoal pode divagar, navegar ou circum-navegar o tempo do programa. É preciso racionalizarmos o tempo.
Aliás, quem não gosta de jazz? (ainda ontem na Virgin, isto sou eu a imaginasticar o tempo antes da Virgin se ter ido embora, agora - in tempus presentis continuum - vamos todos à FNAC, e lá fui à secção de Jazz, bora dái, dizia eu para com os meus botões, ou a um amigo que ia ao meu lado, nao sei bem, aliás, o que é que isso interessa) Alguém acha que os improvisos não são estudados nem ensaiados? Ainda assim soam bem, parece indisciplinado (maxime no free jazz, uns do tipo Art Ansemble of Chicago, que fui ver no Seixal Jazz, quando os havia, com o meu amigo Alex, mais respeitinho, agora é Dr. Carlos Alexandre dos Reis, meretíssimo juiz da comarca do Fogo, Cabo Verde) e (até, para os menos atreitos) soam bem. Basta uma nota, a que eles chama a blue note (em saxofone tenor ensinaram-me que é o si bemol; quando eu tocava, primeiro sozinho, depois com o Júlio e para o fim, antes de arrumar no saco, na banda filarmónica da Amadora) e cada uma sabe onde entrar e que temas ou frases tocar. Acho que é praticável, pode dar bom fraseado no debate. O Debate Africano entraria como uma espécie de improviso estudado, regrado, soando a - isto é que é. E ele, o João, and now presenting João Costa Dias, Glen Miller, João Costa Dias, our MC and maestro que é (ou devia ser) o nosso maestro e é isso bem interiorizado.
Sem um sentido de orquestra o artista não passa de mais um artista e perde-se a ideia de conjunto e a arte transforma-se em cacofonia e ruídos, aquela coisa que se chama tralha comunicacional.