terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Revolução Científica Africana: entre a palavra e a coisa

desde os tempos mais remotos até à actualidade, o progresso das sociedades humanas tem sido pautado por conquistas e inovações tecnológicas. conquistas essas que revelam o esforço humano de dominar o saber, a natureza e as suas próprias limitações.
na sua última obra, A REVOLUÇÃO DA RIQUEZA, alvin e heidi tofler propõe-nos uma breve cartografia dessas conquistas. ao percorrermos o atlas que propõem, descobrimos que o esforço tecnológico – do mais tosco ao ultra-sofisticado – permitiu ao ser humano sobrevoar três vagas na criação de riqueza: a primeira marcada pelo cultivo agrícola; a segunda marcada pela produção industrial e a terceira, na qual viajamos à velocidades estonteantes, marcada pelo conhecimento científico e tecnológico, empírico ou meramente participativo e pela aceleração do tempo.
A 8.ª cimeira dos chefes de estado da união africana, realizada em finais de janeiro na capital etíope abdis abeba, prometia ser uma repetição da cimeira de lagos realizada há cerca de 30 anos, na qual – já nessa altura – se reconhecia e prometia colocar a ciência e a tecnologia ao serviço do desenvolvimento através do reforço da capacidade endógena dos países africanos. em abdis abeba voltou a repetir-se o cardápio e os discursos pontuaram-se na exortação aos estados membros para que despendam 1 % da sua riqueza anual em pesquisa e desenvolvimento científico e para que contribuam para o fundo africano para a ciência e inovação. ao que parece, desta vez os líderes africanos escutaram o repto de acabar imediatamente com o eterno fosso entre a palavra e a coisa.
para já, os 240 hectares do instituto do golfo da guiné, cujas obras iniciaram na semana passada em abuja certificam o esforço africano para estruturar uma comunidade científica própria, através de uma rede de centros de excelência que ajudem a diminuir o fosso, desta feita tecnológico e científico e de riqueza que separa o continente do resto do mundo. o truísmo aqui é simples: estes centros exigem/induzem a uma utilização eficaz de recursos humanos e técnicos, aumentam a pressão para a adopção de melhores práticas de gestão e potenciam a criação de pontes entre a investigação científica e actividade empresarial.
no entanto, para que os fossos tecnológico e científico passem de vez para os armários das más recordações e se abrace esta vaga de criação de riqueza, é necessário ver/navegar para além da excelência elitista dos centros de investigação: precisamos promover e implementar uma verdadeira cultura geral científica, de modo a tornar tanto a ciência e a como a tecnologia em lugares comuns que convivam diariamente e sejam acessíveis ao homem e mulher comuns para que estes tenham acesso a saberes que lhes abram as portas a melhores empregos e novas oportunidades económicas.
ou seja, a verdadeira revolução da riqueza só acontecerá se for feita com a base da pirâmide, porque como nos lembram os tofler, uma economia avançada requer uma sociedade avançada.

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