segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Ciência, religião, a política e um tal mundo plano

na semana passada foi anunciada uma esperança há muito adiada e essencial para o desenvolvimento do continente africano: o vírus da sida pode ter uma fraqueza! os cientistas descobriram que, por breves instantes, o vih, o vírus da sida, mantém-se vulnerável, apresentando uma porta de ataque que já ficou conhecida como o seu calcanhar de aquiles. o gp 120, o tal calcanhar de aquiles, é a proteína do vírus que funciona como a chave imutável que permite a este vírus camaleão infectar o ser humano. a nossa esperança, dizem os cientistas, reside num anticorpo conhecido: o b 12.
os cientistas descobriram o túnel, mas reconhecem que ainda serão necessários muitos esforços e estudos para fazer chegar a luz no seu fundo: é que está ainda em aberto saber se é possível produzir no corpo humano ainda não infectado pelo vírus quantidades suficientes de b 12, o tal anticorpo que pode desactivar o vih.
no entanto, até que se encontre a vacina, é preciso não deixarmos todos os créditos em mãos alheias: como se sabe, áfrica é o continente mais infectado e afectado pela doença. a vacina – esperemos venha mais cedo que tarde – não resolverá todos os problemas, porque, entre outras, serão precisas mais e melhores políticas de saúde, profissionais de saúde em quantidade, qualidade e motivados, melhores condições hospitalares e dos serviços, acessos a meios de transporte, e acima de tudo, preços que permitam concretizar o programa acesso universal aos serviços de hiv/sida, malária e tuberculose aprovado no ano passado em cimeira da União Africana, realizada na capital nigeriana abuja.
num século em que se debate o lugar da ciência e da religião na vida social, a saúde, e em particular a sida, parece poder vir a ser o lugar de diálogo perfeito. de acordo com um estudo divulgado pela organização mundial da saúde, entre 30 e 70% das infra-estruturas de serviços de saúde nos países africanos é assegurado por organizações de cariz religioso. isso quer dizer que têm sido estas organizações as grandes concretizadoras desse programa acesso universal aos serviços de hiv/sida, malária e tuberculose.
nesse registo, os estados africanos não se podem demitir das suas responsabilidades e por isso, não se podem esconder por detrás da falta de meios para implementar políticas de cooperação que permitam um melhor aproveitamento dos serviços prestados por aquelas organizações sociais; e de criar estruturas que permitam estratégias de reforço mútuo para uma aliança global com os laboratórios e empresas comercializadoras dos medicamentos.
assim, e tendo em vista essa parceria global para o desenvolvimento, também os países ricos e que possuem a tecnologia para a produção da vacina devem olhar para esta realidade como uma oportunidade para agregarem esforços de modo a convencer o mundo económico que o processo de globalização pode ser justo, solidário e inclusivo, levando o continente africano ao tal mundo plano que muitos ainda desconhecem. o tal mundo que a ciência procura nos microscópios e as religiões parecem ter encontrado no terreno.

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