quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Relatório minoritário II

na sua crónica guerra fria em munique publicada hoje no jornal português público, a jornalista (especialista em assuntos europeus e internacionais) teresa de sousa para a ascenção dos putin deste mundo, sic! e para o vazio perigoso do fim do momento unipolar da américa. não podemos deixar de ficar comovidos com a atenção e com o espreitar do perigo que teresa de sousa aponta na esquina do lado de lá do lugar onde outrora houverá uma pesada cortina. no entanto, o que putin quis deixar claro é que o perigo não está apenas nas tiranias (estas bestas amestradas pelo poder democrático que extravasam manifestamente os limites impostos pelo açaime popular) e nas ditaduras (estas bestas selvagens sem qualquer açaime e que se mantém pelo medo ou pela coacção): desses bem sabemos com o que contar! não nos enganemos: o perigo também vem das ditas democracias musculadas, que à coberto do seu interesse nacional e ideologias minoritárias de pressão se apropriam das regras internacionais, com exercícios de ilusionismos argumentativos e contorcionismos militares e se permitem o exclusivo do uso da força, da mentira ou da insídia para imporem a sua circunvisão nacionalista, unilateralista ou em tom mais baixinho, imperialista: ora apoia este, ora derruba aquele, ora veta, ora ameaça, ora pressiona, ora financia, ora embarga, numa espécie de dança macabra sem que se perceba o quid e o ethos de uma política por vezes errática mas (pelo menos) é “democrática”.
li nas palavras de putin que a democracia não pode ela mesmo subverter os cânones da sua superioridade moral, agindo como o rufia do recreio (como se o mundo fosse o playground das potências democráticas) atacando e impondo a vontade dos "us democracias" fortes sobre os "them não democráticos" fracos ou plebe condenada à subserviência dos apetidos dos us. e que quando estes se queixam e tentam munir-se de defesas, lá vem o brutamontes, em nome das democracias, para invocar o nome do povo em vão, clamando que só ele pode ser forte porque é filho legítimo, quase divino, mas sem dúvidas maior e vacinado, enquanto os outros ainda cheiram a leite, pertencem ao tal eixo do mal, ou por lá andam e têm de crescer para aparecer: ou desaparecer antes que cresçam, de preferência.
o que teresa de sousa não admite é que a europa apoia o rufia do recreio porque é daqueles magricelas marrões protegidos pelos interesses nacionais do rufia americano musculado. putin (tal como eu) não acredita que haja uma ordem no recreio se houver um rufia que impõe as regras e as subverte ao mesmo tempo que ameaça os magricelas e os impede de definirem o seu próprio interesse nacional. é que para que haja paz é necessário criar um condomínio constitucional ao nível dos sujeitos e das esferas de acção. tentar impor visões através do uso da ameaça só cria anticorpos e respostas contraproducentes: a tal escalada que teresa de sousa fala e teme. a defesa do interesse geral deve extravasar o “interesse nacional” e isso não se consegue através da técnica do coice mas sim através do condomínio dos interesses e esses estão naquilo que se chama o interesse da humanidade. tudo o resto é xadrez relacional.

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