sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Nem tudo o que caça ratos é gato

na Carta Aberta a Hu Jintao, marcelo mosse pede ao presidente chinês que a china respeite o esforço democrático dos moçambicanos
e de todos os africanos, por identidade de razão, diria eu
na condução das relações sino-africanas. o repto do Coordenador Executivo de Centro de Integridade Pública pode resumir-se no seguinte dito: nem tudo o que caça ratos é gato! como defende chris alden no seu artigo Leveraging the Dragon: Toward "An Africa That Can Say No",
(publicado no yale global)
o continente africano deve aprender a definir o seu modelo de relacionamento com a china e defender (com unhas e dentes) o seu interesse. não se trata de um paternalismo como putativamente alguns me acusam, mas sim de prudência!, para que daqui por 500 anos não lamentemos o fardo do homem negro que é ciclicamente vê-se "nu" a troco de pechinchas. com efeito, disse e repito: temos de partir da realidade crua africana
(é triste, mas até que mude: olhe, o rei ainda vai nu, ou quanto muito ainda vai roto. não me digam que o alfaite já está de tesoura na mão porque ainda reina muita ignorância do que será o traje do dito rei)
o continente deve ganhar capacidade reivindicativa perante o império do meio e não aceitar acritica e incondicionalmente a entrada chinesa que chega com anúncios de que é o gato que nos vai ajudar a acabar com os ratos do porão. mosse e alder não estão sozinhos: também eu sei
(e os muitos africanos que já viram os seus negócios fechar, as oportunidades de emprego escapular para as mãos chinesas e o petróleo abastecer os exércitos de abutres que ainda esvoaçam sobre o continente)
que não há almoços gratis. é preciso sabermos que nem tudo o que caça gatos é rato: pode bem ser uma cobra ou outro bicho (dragão?) que não se importa de petiscar o rato enquanto se prepara para se atirar para tudo quanto se mova. importa não nos demitirmos de vigiar os governos africanos e chineses para que não nos arrependamos quando daqui por 500 anos os nossos herdeiros nos acusam de não termos visto bem os dentes da besta que nos devorou o destino... com o nosso consentimento, está claro.
(onde é que eu já li isto? perdoe-me o leitor se lhe parece plágio: o eco da história tem destas coisas: há sempre uma perspectiva de já visto.)

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