terça-feira, 5 de dezembro de 2006

St = Qt (Pt - 29)

A fórmula é simples: subtrair parte dos lucros das companhias petrolíferas para reduzir a factura petrolífera dos países africanos importadores. A ideia foi lançada pelo Presidente senegalês, (Sim!, o mesmo que esteve em visita de Estado em São Tomé e Príncipe na semana passada) Adbulaye Wade promete causar polémica As petrolíferas não são misericórdias,… Os estados exportadores têm a sua própria agenda, problemas conflitos e classe parasitária,… O baixo desempenho africano é culpa da endemias trans-temporais como a corrupção, falta de liderança, o neo-patrimonialismo, a economia rendeira, as guerras, etc…. mas tem méritos e levanta questões de justiça. Expliquemo-nos: Wade pretende que os países produtores africanos, as petrolíferas e a comunidade internacional acordem que os lucros das petrolíferas sejam calculados pela fórmula St = Qt (Pt - 29), já baptizada de Fórmula Wade. [em que S: lucro; Q: produção africana; P: preço do barril de petróleo; t: determinado ano; e 29 é o preço médio do barril em 2003] O presidente Senegalês alega em sua defesa que (passamos a citar em itálico e sem aspas) — é indecente e imoral que as petrolíferas continuem a embolsar biliões em lucros crescentes desde 2003 (a parte do crescente desde 2003 é minha) ou, em inglês: indecent and immoral that oil giants were pocketing billions of profits e que, por seu lado, os Estados importadores continuam a pagar contas cada vez mais elevadas. Referindo-se ao caso do seu país, compara: em 2006 um americano paga três dólares por galão e um senegalês paga o dobro pelo mesmo galão; num país com carências energéticas (vivendo em constante corte e cola energético) e onde os cidadãos usufruem de um rendimento anual per capita de 850 dólares (em números redondos). Trata-se assim de um pedido de justiça, de sustentabilidade, de um esforço de distribuição dessa riqueza gerada por factores de entre aspas mercado que as petrolíferas são convidadas a fazer. Efectivamente, numa conjuntura em que o grito — a era do petróleo barato já lá vai, a ideia não é fazer desses Estados uma espécie de Robin dos Bosques, tirando lucros às milionárias petrolíferas para dar aos pobres (e, em n dos casos, mal governados Estados africanos) mas pedir aos Xerife de Nottingham que aparta um pouco da sua riqueza, evitando a revolta dos pobres: repartir os custos do aumento do preço do barril para aliviar a factura dos países mais aflitos. (Ah, e fique sabendo que, na proposta, o dinheiro vai direitinho para um fundo e não para qualquer conta rendeira, quiça na Suiça, sem querer tirar o mérito dos também esforçados paraísos fiscais). A proposta é audaz, apela à justiça, mas antecipo que será difícil tornar o Xerife em herói da floresta. Dito isso, tenho por certo que o desafio do desenvolvimento e a responsabilidade pelo seu fracasso é, em primeiro lugar, dos próprios líderes africanos e da sua endógena capacidade de fazer desviar para o exterior as culpas e incapacidades da sua gestão.

Para saber mais sobre o assunto: Veja a Lista dos Países Produtores Africanos e leia as coberturas jornalísticas na Afrol News, na Reuters, na Voice of America, na allfrica. Infelizmente, em português só consegui encontrar a notícia publicada no Corrier Internacional, n.º 87 (1 - 7 de Dezembro de 2006). Se for a correr, ainda pode comprar até ao final da semana.

1 comentário:

Abílio Neto disse...

Caro,

Uma ideia muito solidária e justa, essa Fórmula Wade (FW), mas realmente impossível por impraticável, porque dependente de acção contrária a lógica dos dois principais actores: os estados africanos produtores e as petrolíferas.

Não vejo que os governantes dos estados africanos produtores concebam a hipótese de, em negociação, pressionarem no sentido de imporem uma limitação, por razões egoistas (os prémios, as comissões, as luvas...), nacionalistas (a cidadania africana não pode ser solidária porque ainda não existe em consciência e porque materialmente está a léguas de verem satisfeitas as suas necessidades básicas, logo, não entenderia, não tinha que entender a FW) e ideológicas (não existe consciência política africana, entendendo-se o continente como um todo estratégico, e isso não acontecerá enquanto não ultrapassarmos a principal limitação ideológica a da «não ingerência interna», pois, se essa é a n/ obsessão na política externa, porque raios haveremos de conceber o beneficio contrário, esse é o espirito no continente).

Para terminar pergunto-me o seguinte:

Se tivesse responsabilidades num país africano produtor estaria disponível para bater-me por beneficiar o Zimbabwe de Mugade ou a Somália de Não Sei Quem?

A minha resposta franca:

NÃO!

Cumprimentos,

Abílio Neto

PS: belo blog!