domingo, 6 de maio de 2007

Os telhados do Sr. Branco

Doze meses passados sobre o início de funções do governo e da minoria coligada, a sentença do povo santomense não podia ser mais lapidar: este governo não presta! Os maiores partidos da oposição, a uma só voz, também condenam o fracasso do governo, que não se coíbe de puxar lustro aos seus galões e insígnias da governação. O que a oposição não vê do alto da sua miopia, é que a sentença popular «o governo não presta» é também uma sentença sobre si mesma, por ser co-responsável pelos insucessos e insatisfações compiladas no último ano.
O caso do bate boca iniciado pelo líder do MLSTP, Rafael Branco, é a este título exemplar: o líder da oposição lançou um panfleto verbal sobre a natureza criminal e aventureira dos currículos de incógnitos ministros, sem apresentar os nomes dos delinquentes comprovados e aventureiros conhecidos, refugiando-se na boca do povo. Aconteceu o esperado... e o líder do MLSTP sabe, ou devia saber, que quem com ferros fere, com os mesmos é ferido e que esse mesmo povo também já escreveu o seu currículo e sobre ele o governo despejaria os populares verbetes. Assistiu-se por isso ao transformar da arena política numa aldeia da roupa branca em que os líderes políticos se tornaram lavadeiras da sujeira pública num exercício de demagogia que apodrece a credibilidade de quem deseja ser alternativa e o MLSTP fica entalado entre a espada do ridículo e a parede da falta de ideias.
A democracia é um processo de vulgarização de histórias de sucesso. Isso garante-se através de valores, regras e instituições e não respeitar esta pauta torna-se um caso de vulgarização da rasteira, da insinuação e uma casca vazia de sucessos. No debate democrático, da oposição esperam-se políticas alternativas, credibilidade e fiscalização responsável. Pede-se que saiba escutar os apelos sociais e as implicações do poder. O pingue-pongue verbal entre o líder do MLSTP e o governo demonstra a ineptidão política para escutar esses apelos e o total desconhecimento das implicações da falta de credibilidade do actor. Não posso decretar a inscrição compulsiva dos líderes na escola democrática, mas peço que os mesmos decretem o recolher obrigatório da roupa suja e a mobilização geral da decência. É que sem decência, a nobre arte da política não passa de uma disputa podre. E como tudo o que é podre, quando nos cai em cima não gostamos do seu cheiro.

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