domingo, 19 de novembro de 2006

Áffrica e china a caminho da Rota da Seda

Reflexões em torno de um neo-mercantilismo cínico
Seis anos após a Declaração de Beijing, a China voltou a receber – com pompas e circunstâncias nunca antes vistas – a cimeira de líderes do Fórum de Cooperação China-África. À mesa dos negócios e cooperação foram trocados presentes ao contento. Do lado africano ofereceram-se as matérias-primas necessárias para alimentar a crescente indústria chinesa e o acesso aos mercados africanos dos produtos acabados chineses. Do lado chinês, prometeram-se milionários pacotes de construções e financiamentos “low cost”, sem quaisquer preocupações políticas, de direitos humanos, sociais ou ambientais. Ou seja, de um lado e de outro, vence o cinismo político em nome de um paradigma de benefícios mútuos e de não interferência nos assuntos internos, mesmo quando estes contrariam as mais essências normas de convivência social. Porém…, nesta nova rota da seda, o défice comercial africano cresce de ano para ano, e não se vê preocupações com a implementação de medidas de verdadeiros benefícios mútuos. Na verdade, a China encontrou em África uma nova parceria para os seus interesses geopolíticos e económicos, em tudo baseados no velho pensamento mercantilista. Nesta relação de desiguais, resta aos líderes africanos encontrarem o caminho africano para a China: um caminho que tenha mais a ver com as suas necessidades e interesses, nomeadamente na criação de empregos e transferência de tecnologias. É por isso necessário aprender com a história: enquanto África não estiver disposta a ir para além dos pacotes financeiros e de um modelo neo-mercantilista cínico, o seu lugar no comércio internacional apenas dependerá do interesse que as potências concorrentes têm nos mercados primários africanos.
[Crónica transmitida na rúbrica Ao Calor de África da RDP -África de 6 de Novembro de 2006.]

1 comentário:

Unknown disse...

As Novas Caravelas do Oriente

No princípio do século XVI a África encontrou-se na rota dos descobrimentos pelos Europeus que iam em direcção ao Oriente. Volvidos cinco séculos a África reencontra-se de novo na rota dos descobrimentos pelos Asiáticos que vão em direcção ao Ocidente.

Será maldição?

A primeira experiência não fora positiva pelas consequências ainda visíveis. O mercantilismo do passado continua presente mas em novos moldes (neo-mercantilismo). Os chefes tribais africanos também foram convencidos de que estavam a fazer bons negócios. As trocas não foram justas, eram bijutarias europeias contra as matérias-primas que não existiam na Europa.

Os Europeus sabiam o que procuravam, e neste momento os Asiáticos também sabem!

Os Africanos ao não assumirem a rédea do seu desenvolvimento ficaram expostos a imposições externas. Aparentemente os estrangeiros visitam a África, certificam das suas carências e disponibilizam-se para em troca daquilo que realmente querem (matérias-primas) efectuar um negócio.

Será isto um bom negócio?

Aparentemente sim, as duas partes estarão satisfeitas. Tal como no passado, substitui-se chefes tribais por chefes de Estados, estarão estes convencidos de estarem a efectuar bons negócios. A África será servida daquilo que os Asiáticos fazem melhor que são grandes infra-estruturas básicas, ao preço baixo e no mais curto espaço de tempo. E como sempre em troca será dado o que todos vêm a procura, matérias-primas necessárias ao desenvolvimento destas economias.

Quando é que estas matérias-primas serão útil a África? Provavelmente quando ela estiver esgotada.
Pode-se pensar que no futuro haverá alternativa a estas matérias-primas! Pois, mas não serão propriedade industrial de África, porque os actuais consumidores desta matéria-prima estão a trabalhar (I&D) na sua substituição devido a previsão do seu esgotamento.

A África precisa de pegar nas suas pirogas e fazer também a sua rota dos descobrimentos!

Segundo Zhibin Gu* “Se vem para a China, tem de dar os passos certos. E a regra número um é esta: Cresça com a China e não à custa da China.” E porque não dizer o mesmo a África?

Celsio Junqueira


*Zhibin Gu é colunista de Gurusonline.tv em inglês - coluna "China Century".