quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Um livro escrito nos rodapés

Cá estou, hoje sem muito que dizer, nem com vontade de saltitar entre uma linha e a esquina da minha rua onde vejo um homem a fumar, a tomar num gesto a cigarrilha da gabardine, a apalpar um bolso, e outro Ora que porra não encontro a m... d'
o esqueiro,
a ter de procurar na mala, que pousa, que abre e lá encontra no meio dos papeis uma recordação da Pensão onde passou a noite anterior, donde saiu sem fazer a barba que coça quando leva a primeira passa, que inspira suavemente Ah caramba porque sente o prazer entrar-lhe nos pulmões, enquanto olha para o relógio também, e esquece-se que está adiantado,
(não atrasado porque o autocarro das 7:40 já passou e agora está adiantado para o próximo) e que o autocarro só passa quando passar, porque é o especial, que só vem quando chega e mais uma vez Vou chegar atrasado, caramba, porque nunca acorda a horas, ou quando acorda, olha para o relógio e pede só mais uns minutos, mais uns cinco e Já me levanto e fecho a janela, para não o ver fugir da ponta do cigarro em fumo, a voar por cima da sua boca, ao canto da esquina
e volto para o meu computador, porque
tenho de sair,
tenho de ir dar aulas na faculdade, e não quero chegar atrasado ou ficar uns dez minutos
que porra
a espera do autocarro. Mas antes de sair, vou buscar o isqueiro, tomar a bagardine e correr com a mala cheia daqueles livros daqueles artigos que os alunos não gostam mas lá tenho de os dizer Olhem que o livro também se escreve no rodapé, mesmo com a barba por fazer e com uma vontade imensa de fumar.

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