domingo, 19 de novembro de 2006

1% de responsabilidade

DESTA vez é que é! A acreditar nas declarações da Ministra das Finanças santomense, São Tome e Príncipe está a 1% do sim ao perdão da dívida. Na verdade a ministra afirmou que o Governo cumpriu 99% dos critérios impostos pelos donos internacionais do país (Banco Mundial, FMI, Clube de Paris). Ou seja, nas minhas contas de leigo, o governo deixou apenas 1% ficou por fazer… E esses 1% farão toda a diferença. Na passada sexta-feira uma equipa de peritos do Bretton Woods deixou São Tomé e Príncipe depois de avaliar se os tais 99% dos critérios foram cumpridos satisfatoriamente de modo a impedir a inflação de continuar a fabricar pobres ou de degradar os salários de quem trabalha. No fundo, depois de avaliar se o menino está a tomar o remédio receitado. Se o perdão for concedido, os santomenses não terão motivos para desafogo: é preciso continuarem de cinto apertado, confessa a ministra, porque o país não produz riqueza, esclarece em desabafo íntimo aos jornalistas. Por isso, entendo que embora não sejam estas as intenções da ministra, o 1% que ela insinua faltar é um convite aos santomenses para que estes possam fazer o que o governo não pode por eles: decidir que futuro querem para São Tomé e Príncipe e que papel estão dispostos a assumir. Quando os peritos do fundo monetário elaborarem o seu relatório, os 99% da parte do Governo e da Assembleia Nacional poderão ser suficientes para o perdão. E se assim for, os credores internacionais não deixarão aos santomenses apenas um perdão da sua dívida: deixarão aos santomenses os essenciais 1% de responsabilidade pelo seu futuro.
[Desenvolvi este tema na emissão do Debate Africano de 19 de Novembro, 2006]